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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

* SE DEUS DESLIGASSE O RADAR?

CRÔNICA: Pense comigo: se Deus desligasse o radar? Sim, se ele temporariamente desligasse o seu radar moral e ético? Se Ele desse aos homens quatro dias de total liberdade (?) para fazerem tudo o que julgarem direito...

"Quase dois meses depois de serem desligados, os radares que fiscalizam a velocidade em Curitiba voltaram a funcionar e a multar à zero hora de hoje. Os 110 equipamentos estavam fora de operação desde o dia 3 de dezembro, por determinação da Justiça. Na quarta-feira da semana passada, o desembargador Ruy Fernando de Oliveira, 1.º vice-presidente do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), autorizou a URBS, empresa de economia mista que gerencia o trânsito na capital, a voltar a utilizar os radares".*

Para muita gente a notícia acima foi recebida sob protestos. Outros a aprovaram. Enquanto uma parcela dos condutores simplesmente a ignorou; ou seja, para estes, não fez a menor diferença.

Se para os primeiros o radar é o braço eletrônico do poder público que simplesmente arrecada cada vez mais, para os segundos, o radar é um aliado do departamento de trânsito o qual auxilia na difícil tarefa de coibir maiores danos no trânsito das cidades. Contudo, para os terceiros, o radar não é nem objeto do mal tampouco símbolo do bem. É apenas radar.

Para quem aprendeu a lição do respeito pela vida, os radares não passam de pardais inofensivos.

Vale ressaltar que as estatísticas têm mostrado que a cada ano o número de vítimas e acidentados no trânsito no Brasil tem aumentado vertiginosamente. Segundos os dados atuais, diariamente ocorrem 723 acidentes nas rodovias pavimentadas brasileiras, provocando a morte de 35 pessoas por dia e deixando 417 feridos, dos quais 30 morrem em decorrência do acidente. Isso significa que 42.000 pessoas morrem anualmente vítimas de acidente de trânsito no Brasil. As mortes no trânsito só perdem para o homicídio no quesito de causa externa. Enquanto no Brasil, o trânsito mata 65 por dia, nos Estados Unidos, por exemplo, são apenas 4.**

Pense nisso.

Enquanto eu observava pelo espelho o cabeleireiro aparar o meu cabelo encarapinhado, eis que o televisor do salão veicula um comercial bastante "educativo". O tema era o carnaval 2010 sem violência no trânsito. O cenário era simplesmente bucólico; surreal, eu diria: atores desfilando dentro de protótipos de taxis. A única escolha correta para o comercial foi a protagonista: uma comediante. Isso é uma piada? Se foi, eu gostaria de achar graça.

Desde quando a festa mais importante do país mais católico do mundo tem por meta a segurança dos foliões. Uma festa regada à bebedeira não pode oferecer segurança no trânsito. Um banquete da carne não é a melhor opção para o bom senso no volante. Nenhum trio elétrico é capaz de desligar a euforia da irresponsabilidade nas estradas. Ao contrário.

Cair na gandaia com segurança! Prá mim, é demais...

O trânsito exige cinto de segurança; não serpentina.

Talvez as autoridades pudessem exigir não apenas as chaves das cidades na quarta mais cinzenta do ano, mas o balanço que o trânsito acusa depois de quatro dias de folia. As chaves da cidade não foram suficientes para evitar as tragédias que o carnaval produz: embriaguez, discussões, violência, abusos, acidentes, mortes, e um coquetel que faria inveja a Sodoma e Gomorra.

A rigor, outras duas cidades merecem minha atenção: Curitiba e Rio de Janeiro. A primeira em função da suspensão temporária dos radares. A segunda pela perpetuação do carnaval.

Pense comigo: se Deus desligasse o radar? Sim, se ele temporariamente desligasse o seu radar moral e ético? Se Ele desse aos homens quatro dias de total liberdade (?) para fazerem tudo o que julgarem direito.

O que eles fariam? E o que você faria?

Aproveitaria para extravasar todos os seus impulsos reprimidos? Liberaria toda a energia represada pela cultura, pela religiosidade, pelas leis, pela consciência e por todas as instâncias que a vida lhe impõe?

Ou, aproveitaria para protestar contra Deus, afinal, como Ele se permitiria tomar tamanha atitude, especialmente pelo fato de conhecer a natureza humana, caída, e que isso representaria o fim dos limites, os quais permitem o mínimo de ordem moral.

Ou, ainda, aproveitaria para simplesmente viver. Afinal, independentemente da ação divina, Deus continua sendo o EU SOU, e sua essência é imutável. E, por essa razão, você também continuaria sendo a mesma pessoa; a despeito da "liberação" das leis divinas. Ou seja, sua obediência à Deus independe das punições previstas aos infratores.

Quem prioriza a obediência as leis de trânsito e as de Deus, não precisa se preocupar onde estão os radares. Afinal, eles existem essencialmente para quem desobedece.

Se na lenda psicanalítica o carnaval é o período no qual o ego sai de casa para satisfazer os anseios do id, sem a sensura do superego, na realidade, a vida é muito mais do que uma frouxidão das âncoras da liberdade e responsabilidade.

Pular o carnaval com moderação é o mesmo que pedir ao alcoólatra que beba conscientemente. Um copo após o outro. Nunca ao mesmo tempo...

O carnaval usa a máscara da libertinagem num corpo sensual dançando na pista escorregadia da imoralidade.

E a conta da festa da carne será paga pelo espírito. Sem máscara, é claro.



* FONTE: Gazeta do Povo, 01 de fevereiro de 2010.

** FONTE: www.estradas.com.br

NEIR MOREIRA

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